Eu, de Mim Sozinha…
Esther Crouch
Eu, que de mim nasci sozinha —
sem pai nem mãe —
brotei do nada.
Solo fértil de sonhos,
terra regada com lágrimas de amor.
Cheguei de olhos abertos,
condenada a crescer no exílio de mim mesma.
Vi muito.
Senti tudo.
Chorei pouco.
Rolei de rir.
Falei — e não fui ouvida.
O silêncio da bolha transparente…
Vejo, e não sou vista.
Meu grito atinge as florestas,
balança as árvores,
vai contra as ondas do mar.
Alguns sonhos inacabados,
sonhos sonhados de olhos abertos,
com o olhar de criança perdida.
Aprendi a sobreviver do nada,
buscando dentro da alma
as cores para o meu mundo.
Encontrei meu mundo.
Adotei pai e mãe.
Falei com D’s.
Urrei pra lua.
Sequei minhas lágrimas ao sol.
Do solo fértil de mim sozinha
brotaram flores —
flores de sonho,
flores de amor incontido.
Amor só meu.
Duas flores desse amor nasceram.
Flores que fiz sozinha (D’s e eu),
cultivadas por mim.
Reguei minhas flores, falei com elas,
brinquei de esconder,
mostrei as cores e os perfumes.
Pronto.
Uma flor nasceu delicada,
precisando de proteção.
Busquei uma redoma,
protegi do vento, da chuva,
do sol e dos insetos…
Minha delicada e exótica flor.
A outra — flor do campo —
já nasceu forte, colorida e perfumada.
Sorridente, fácil.
Essa flor, colorida e terna,
valente flor de cores mil,
nasceu de mim,
mas transformou-se em segurança.
Veio para dar, sem nada pedir.
Minha flor do campo
tem os pés bem plantados no solo,
ombros largos que traduzem confiança.
Ela me dá o colo que não tive,
o equilíbrio de que necessito
para encarar esse mundo
por vezes tão feio…
Olho o mundo por seus olhos
cor de mar à tardinha.
Eu, que de mim nasci sozinha…
Encontro a paz de SER.