domingo, 21 de setembro de 2025

No fio da vida

 “Sou a bailarina — cabelos ao vento, pés descalços, guarda-sol aberto. Caminho no fio da vida com graça e coragem, sabendo que há um pequeno furo na meia rendada… mas sigo dançando. Porque viver é isso: equilíbrio entre o riso e a queda, entre o sonho e a memória.”


Quem sou eu

Sou mulher, judia e carrego três nacionalidades no coração: brasileira, americana e israelense. Mais do que isso, sou uma sonhadora — uma bailarina que caminha no fio de arame lá nas alturas, com um guarda-sol aberto e um pequeno furo na meia rendada. Sei que o furo está lá, mas sigo dançando com graça, buscando equilíbrio entre o riso e a lágrima.

Minha estrada é longa, minha vida absurda — cheia de amor, cheia de histórias, e felizmente, muito amada. Levo comigo Violeta, minha companheirinha de aventuras e desventuras, e este blog é nosso cantinho despretensioso: um lugar para abrir o coração, deixar voar os pássaros que vivem na minha cabeça maluca e servir um café imaginário aos amigos queridos que passam por aqui.

Esther Crouch ( Mucha)



Linhas Paralelas

 

Linhas Paralelas

Um conto de amor, reverência e esperança

Introdução: Nem toda história de amor termina com um “felizes para sempre”. Algumas atravessam décadas, continentes, religiões, famílias e ainda assim permanecem vivas — mesmo que invisíveis. Esta é a história de uma mulher que viveu intensamente, amou profundamente, sofreu com dignidade e encontrou, no fim, uma paz perfumada entre jasmins e gatos. Uma história real, contada com delicadeza, sem nomes, mas cheia de identidade.

Texto: Ela nasceu em São Paulo, entre flores e festas, mimada pelo pai como uma princesa de contos antigos. Os olhos grandes, castanhos e curiosos pareciam sempre à procura de algo além. Os cabelos longos escorriam pelas costas como seda viva. E o perfume… ah, o perfume. Zadig, de Emilio Pucci — um aroma raro, elegante, que a envolvia como uma assinatura invisível.

Seu pai a tratava como uma joia. Mimada, sim — mas com afeto, com orgulho, com ternura, a fazia sentir que o mundo era seguro, belo, possível. O melhor colo, lugar seguro no mundo. E ela acreditava. Até o dia em que o encontrou sem vida. Um acidente. Um silêncio. E a menina que falava com os olhos, calou-se por meses.

A arte a salvou. A FAAP a recebeu como quem entende almas feridas. Entre pincéis e telas, ela começou a se reconstruir. Mas algo ainda faltava. A fé herdada já não bastava. A dor abriu espaço para perguntas. E as respostas começaram a surgir com os amigos judeus, nas festas judaicas, nas aulas que a faziam levitar, nos olhares que a acolhiam. Foi se aproximando da comunidade judaica como quem encontra uma terra prometida dentro de si.

E então, como nas grandes histórias, veio o amor.

Um homem sete anos mais velho, de uma família tradicional, a amava com devoção. Ela, com entrega. Foram nove anos de amor profundo, mas também de resistência. A família dele não aceitava. Ela não era nascida judia. E um edito ancestral proibia bênçãos fora do padrão.

Ela foi para Israel. Trabalhou num kibbutz. Sobreviveu a um atentado no Golan. E ele, lá do Brasil, pediu sua mão. Ela voltou. Vestido pronto. Convites enviados. Apartamento arrumado. Mas a família o sequestrou. Ele desapareceu na Suíça. Ela, numa clínica de repouso, buscando nos sonhos o que a realidade lhe negava.

Quando ele voltou, voltaram a se ver. Mas agora era escondido. E então, trouxeram da Europa uma  pessoa. Ele se casou com outra — uma moça da mesma origem, aparentada com a mãe. “É melhor assim”, ele disse. “Você ainda pode se casar bem. Se eu não me casar, você não se casará nunca.”

Ela foi para Minnesota. Converteu-se com o Chabad. Ao voltar ao Brasil, seu rabino fez um shidur e ela casou-se com um estranho, visto apenas três vezes. Teve dois filhos — sua vida. Criou-os com fé, com firmeza, com amor. Quando cresceram, divorciaram-se. Porque liberdade, para ela, sempre foi mais que sonho — foi escolha.

Aos 50, encontrou um companheiro. Americano, com seis filhos e duas ex-esposas já falecidas. Casaram-se nos Estados Unidos. Não foi fácil, mas foi verdadeiro. Em 2014, fizeram Aliyah. Hoje vivem em Karmiel, felizes.

E o mais curioso: seus filhos estudaram com os filhos do grande amor. Frequentaram os mesmos restaurantes, as mesmas festas. Linhas paralelas — tão próximas, tão distantes. Nunca se cruzaram. Nunca se esqueceram.

As pessoas os chamavam de “A Bela e a Fera”. Ela ri disso até hoje. Porque no fundo, sabe que foi bela. E que ele era mesmo fera, de uma inteligência impar e a amou como ninguém no mundo.

Hoje, ela vive uma vida simples. E isso, para quem já dançou entre festas e perfumes raros, é um luxo silencioso. Mora num bairro encantador no norte de Israel, onde as manhãs começam com o canto das aves e o perfume dos jasmins que rodeiam as grades do prédio. À frente da janela, uma tamareira a cumprimenta todos os dias, como uma velha amiga que conhece seus segredos.

Às seis da manhã e às seis da tarde, ela sai — sem maquiagem, de sandálias, com o coração leve — para alimentar os gatos da esquina. Eles a esperam como quem reconhece nela uma alma irmã. E ela os cuida como quem entende que o amor não precisa de palavras.

Acorda olhando para as montanhas da Galileia. E ali, entre o verde e o silêncio, ela encontra o que sempre buscou: paz. Não a paz da ausência de dor, mas a paz da aceitação. A paz de quem viveu tudo o que podia — e agora repousa entre perfumes, lembranças e miados.

Ela é avó, mãe, amiga, artista, sobrevivente. E acima de tudo, é ela mesma. Aquela que amou, que lutou, que se reinventou. E que hoje, entre gatos e jasmins, continua sendo poesia.

Encerramento: Se você leu até aqui, talvez tenha sentido que esta história também fala um pouco de você. Porque todos temos nossas linhas paralelas — amores que não se cruzaram, escolhas que nos transformaram, silêncios que nos ensinaram. E se há algo que este conto deixa como legado, é que viver com verdade é o maior ato de esperança.

De uma maneira ou de outra fica a sensação de que as   palavras sempre limitam a grandiosidade de uma emoção...

E.C.

domingo, 14 de setembro de 2025

A Vida como ela e.




 A Vida como ela e.

Lembro bem do tempo em que, eu mocinha, até mesmo ao entrar nos 30, só precisava de um bom shampoo, máscara Max Factor e um bom perfume para me sentir pronta para encarar o mundo.
O tempo foi passando muito lentamente e, gradualmente, o makeup foi aumentando. Um pouco de corretivo aqui e acola, um bronze para dar vida, dos 40 em diante. Uma base mais consistente, quem sabe...? Até chegar aos 60 foi assim, com os apetrechos de maquiagem como aliados fieis, os cílios longos e um bater de pálpebras em slow motion. Dai em diante os arificios foram decrescendo, os sorrisos se multiplicando, e eu quase que voltando à etapa inicial do bom shampoo e o melhor perfume.
A Vida como ela e. Uma passarela dourada, cheia de percalços que quase ninguém vê, que você aprende a ultrapassar tentando ser graciosa e valente, brava.
Reinventando sempre.
Feliz aos 75!
E.C.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Luto





Dias de Luto

Temos vivido dias de imensa tristeza.
Israel está de luto — estamos todos enlutados.
Um país inteiro em luto.

Desde o dia 7 de Outubro de 2023, temos enfrentado dias amargos, perdas irreparáveis. Mas esta semana… ah, esta semana foi especialmente violenta.
Vimos o rosto horrendo do ódio.
Vimos a expressão crua da barbárie, da violência injustificável, do mais baixo instinto humano.

Desde a última sexta-feira, estamos incrédulos.
Boquiabertos.
Dilacerados.

Eles não vão nos entregar nenhum refém.
Nunca tiveram intenção de entregar alguém com vida.
Infelizmente, ainda precisamos aprender a conhecer melhor os nossos vizinhos…

O Primeiro-Ministro está certo:
Não ceder mais nada.
Acabar com o Hamas.
Acabar com o Hezbollah.
E finalmente montar um governo forte — um governo que não se curve a palpites de quem não dá conta nem de limpar a própria casa.

Que possamos acreditar no futuro.
Que nossas crianças cresçam sem medo.
Que os jovens voltem a dançar…

Hoje estou triste.
Estamos todos tristes.

Mas amanhã…
Amanhã vamos nos levantar e bendizer um novo dia.

Que HaShem nos ajude e nos guarde.
Que olhe para Seu povo com benevolência e nos traga conforto.

Hoje estamos todos muito tristes.

E.C.