Será?
Por que essa vontade de ser transparente?
Transparente no sentido de se expor...
Talvez seja um desejo de ser aceita pelo que há por dentro — não apenas um rosto, um sorriso.
Ser troféu angústia, machuca, cansa, exaure.
Queria te dar algo mais.
Queria te oferecer os aromas da minha infância.
Aquela sensação de poder e humildade que eu sentia na adolescência ao presenciar o pôr do sol.
Queria que você pudesse ver a menina crescendo.
Que escutasse — e soubesse cantar — minhas canções antigas.
E entendesse por que gosto tanto delas.
Ah... eu queria te mostrar minhas dúvidas antigas — tantas...
E as poucas certezas que hoje tenho, mesmo quando lanço fumaça nos olhos de quem me vê andando tão segura, tão altiva.
Soltar as amarras.
Assim como se liberta o cabelo cativo dos elásticos e presilhas.
Lembro de uma cena que me marcou muito, num filme:
uma moça ia até onde passava o metrô, e lá esperava...
Esperava até que ele chegasse, para então gritar, soltar um uivo —
e assim liberar, em termos, a angústia que trazia no peito.
Soltar as amarras.
Deixar que você visse o bonito e o feio que existem por trás do rosto e do sorriso.
Eu queria me despir das aparências para ser amada por você. Integralmente.
Será?
Vai ficar sempre o “será?”...
E.C.