segunda-feira, 30 de março de 2015

Brincando de Viver em Oklahoma







Brincando de Viver em Oklahoma
(ou: de como apreciar Oklahoma…)
Esther Crouch (Mucha)

SE VOCÊ JAMAIS CORREU DESCALÇA NA GRAMA…
SE JAMAIS FEZ AMOR LIVRE, SOLTO, SEM PENSAR NO AMANHÃ…
SE NUNCA PROVOU GRAPEFRUIT COM SAL…
SEGURAMENTE É PORQUE VOCÊ NÃO FOI A OKLAHOMA!!!

Oklahoma tem gosto de sol… de sal… de terra!
Gelo moído. Gelo picado.
Gente de dente forte — mastigar gelo é esporte nacional!

Quem nunca comeu o quiabo de Oklahoma… não sabe nada da vida!

Pela manhã, ouvir o "homem do tempo"
E sair o dia inteiro pensando que vai nevar…
Ou pior:
que vem aí uma tempestade.

A palavra-chave é: STORN!!!
(Arrepia os cabelos da nuca.)

No finzinho do dia, sentar para ver o colorido do pôr do sol
e comentar, com palito no canto da boca:
“a previsão estava errada.”

ISSO É OKLAHOMA!

Terra de Gerônimo.
Terra de Cochise.

Planícies a perder de vista…
Montanhas geladas.
Montanhas de pedra em Wichita.

Pedras que contam histórias.
Histórias de índio bravo. Índio valente.

Gerônimo foi capturado e preso nas montanhas de Wichita.
Ficou no forte… até sua morte.

Oklahoma é terra indígena.
Terra que o homem branco roubou.

Índios orgulhosos, bonitos, gente brava
que, dia após dia, está dando a volta por cima.

E como?
Simples.
Cassinos!
Só índio pode ter cassino em Oklahoma.

E assim começa a grande virada:
o índio não joga…
mas o cara-pálida adora apostar!

Quem não sabe quem foi Gerônimo…
não esteve em Oklahoma.

Portanto… não viveu!

Você sabe o que é um tornado?
Tornado é a fúria de D’s em forma de redemoinho.
Destruição. Medo. Morte.
Tudo conjugado em segundos.

Terra seca.
Lágrimas represadas.
Mãos calosas.
Bandanas na testa.
Calor de rachar melancias…

Ai, ai, ai!
Oklahoma tem uma ou duas igrejas por quarteirão.

É muita igreja!!

O povo vai “ao culto”
de manhã aos domingos
e à noite nas quartas…

Rezam tanto… será pra quê, hein?
Nunca entendi.

E.C.


P.S.
Depois de um ano… descobri:
me enganei redondamente sobre Oklahoma.

Tecumseh não é Oklahoma.
Oklahoma não é América.

domingo, 29 de março de 2015

Freud Ray Crouch aos amigos do Brasil

"Freud Ray Crouch"
(escrito em 2006)
Aqui moro com minha mãe e meu pai. 
Tá vendo a casa lá ? É onde eu moro. 
Quando eu vivia ai em S.Paulo eu não sabia correr, tinha medo de tudo. Agora sou corajoso, tenho músculos, corro atrás de racoons e possons, esquilos e coelhos! Sou o terror das redondezas! Quando chego na grade do deck todos me olham aterrorizados!!!! Sou muito importante aqui! Tenho o nome do meu pai, para quem não sabe: meu nome é Freud Ray e meu pai é o Bob Ray Crouch. Gosto muito deste nome, me faz sentir querido e amado ( está nos meus documentos, minha mãe diz!). 
Nos meus tempos de São Paulo eu só fazia minhas necessidades no cimento e minha mamy tinha que recolher ( o que me fazia lembrar sempre a minha condição de cachorro...)Aqui a vida é outra: levanto pela manhã com minha família. Recebo agrados e dou grunhidos e rosnados em resposta. Eles perguntam pra mim se eu quero ir ver o "BICHO", (PALAVRA ENCANTADA PRA MIM!) Abrem a porta do deck e.............lá vou eu, correndo na velocidade do vento de Oklahoma.......tento pegar um esquilo, assusto pássaros, ( bluebirds, cardinals, etc). Em meio de toda essa festa encontro mil lugares para fazer minha Homenagem Matinal....PIPI por todo lado no bosque!!!! rsrsrsr Mais afastado um pouco, com mais privacidade, é claro, encontro o lugar perfeito para a HOMENAGEM ESPECIAL da manhã: faço meu popozinho, bonitinho, na grama, em meio as arvores. Dou uma corridinha e olho pra ver se mamãe esta olhando. É...porque quando ela está olhando ,recebo aplausos e gritinhos! (minha mãe é muito gozada!) Ao chegar aqui eu não queria me conformar em fazer minhas "Homenagens matinais" na grama e na terra! Imaginem que eu procurava concreto, asfalto...Foi difícil me acostumar!!!! 
Hoje sou um " redneck", que aqui quer dizer CAIPIRA. Vivo uma vida livre e boa. Sou muito feliz e saudável, tenho carinho e amor de minha família. Hoje com 7 anos de idade, um rapaz maduro, posso dizer que vivo os melhores anos de minha vida. 
Trabalho muito, não é que sou um preguiçoso não!!!! Aqui trabalho de verdade! O meu pai coloca comida para os pássaros e eu sou o encarregado de espantar os esquilos e racoons e possons que vem comer as sementinhas!!! É um serviço e tanto mas tem lá suas compensações...Ração da melhor! Carinho e biscoitos...Amizade e compreensão, respeito e muito, mas muito AMOR! 
É isso ai, gente! É só pra dizer que estou feliz em ser um REDNECK e que não esqueci vocês. 
Grunhidos pachorrentos e rosnados! 
Freud Ray Crouch ( com muito orgulho!)

Black (Pirata)





Black
Esther Crouch (Mucha)

O gato preto se alimenta só de borboletas na primavera e no verão...
Quando chega o outono, ele se vê comendo mariposas — e acho que não gosta muito.

Afinal, ele, o Black (o gato preto), é por excelência um ser dotado de senso estético.

As borboletas são tão lindas! Coloridas, com asas que batem sensualmente...
Ele as abocanha quando estão cheias de sol e de brilho.
Fica com a barriguinha fosforescente — iluminada mesmo!

Isso tudo acontece no verão, compreende?
Sim, no verão e na primavera, esse “pirata” de olhos verdes,
depois de encher a pancinha de luz, se derrete preguiçosamente ao sol no deck.

De boca aberta, dentinhos como pérolas de arroz,
língua pendente no canto da boca…
Mais pareceria um bêbado — se não fosse tão lindo!

De vez em quando acorda,
espreguiça-se langorosamente,
esticando todo seu corpinho delgado — uma pata depois da outra…
Alguns passos elegantes até o pote de água fresca
(que a “mulherbrasileiraquefalagozado” trata de manter sempre em dia)
e bebe delicadamente.

Ele — o gato preto — não sabe que fica mais feioso no verão.
Tratamos de fazer com que ele não perceba sua fealdade.

O pelo cai,
suas inúmeras cicatrizes
(tantas e tantas noites namorando pelo bosque...)
ficam à mostra.

É engraçado esse Black!
Anda com a majestade que nosso amor lhe confere,
mesmo quando mais parece um morcego velho!

Tratamos para que ele jamais perceba que no verão
só mesmo sua barriguinha brilha.
Acho que ele não suportaria o impacto dessa imagem!

Já quando vem o outono,
junto com a mudança das cores nas árvores
— do verde forte aos muitos tons avermelhados e dourados —
o gato preto, meu querido Black,
começa a receber, direto de D’s,
sua manta de vison especial.

Dia após dia vai se transformando,
e dia após dia fica mais lindo.

Mas... o preço de toda essa beleza?
Ter que comer mariposas!

Feias e nervosas — talvez por isso tão feias.
Primas pobres das borboletas...
Ele as faz sofrer antes de engoli-las.

Usa de extremo sadismo com essas feiosas.
As coitadas estrebucham, batendo em vão as asas,
e ele pacientemente as mira.

Acho que tudo isso é um ritual pra ele.
Estranho ritual!

No fim, ele não se satisfaz com a tal da mariposa.
Acaba comendo ração para gato —
o que me parece uma indignidade tratando-se do Black.

Mas indignidade mesmo é ir dormir com o estômago vazio…
Ele come a ração!

“Papai” já providenciou o aquecimento para a casinha.
"Home Sweet Home” é fato!
Quentinha e segura.
O bichano só coloca o delicado narizinho pra fora.

Os olhos semiabertos não demonstram muita curiosidade.
Ele parece pensar:
“Quero mais é que o mundo se acabe em barranco…
está tão quentinho aqui...”

O inverno chegou.
E o Black está lindo.
Seu casaco de mink está precioso este ano.

Ele anda a passos de quem sabe disso.

Pela manhã, quando abro a porta e dou meu
"Bom dia, gato ordinário!”,
ele parece apreciar a saudação.

Dá dois miados,
põe a pequena e linda cara na porta de sua mansão
e, com os olhos verdes entreabertos,
me olha de esguelha.

Vem como quem não quer nada...
Devagar.
Devagar quase parando.

Quando chega bem pertinho de mim,
escancara os olhos de um verde muito, muito verde
e mia fininho:

"Stupid Brazilian woman, give me NOW my milk!
And don’t heat it too much, you hear??!"

Obediente, vou esquentar o leitinho do bichano.
Mimado gato preto!

Adquiriu um novo hábito…
Não sei onde foi buscar tanta esperteza!

Quando não está muito frio,
vai lá pra baixo, senta debaixo da árvore,
fica quieto, mal respira.
Não se move.

É como se não estivesse lá…
ou… quem sabe… estivesse morto!
Mortinho.

Não!
Ele espera que a passarinhada venha comer.
Quem sabe um incauto venha num voo rasante e…
ZASSSSSSS!
O Black pega no ar o coitado do passarinho!

E aí você me pergunta:
“É pra comer??”
Sim — mas só depois de mostrar pra “Mamãe”.

Ele come só um pedacinho (você sabe como é... a gula!)
e põe o coitado do defuntinho alado, mutilado,
no tapetinho do lado de fora da porta do deque.

A “estúpida mulher brasileira”, que vem a ser a “Mamãe”, sou eu!

Abro a porta, elogio o pequeno assassino de olhos de jade,
faço festa, canto música e digo que ele é verdadeiramente um herói!

Ele então pega o passarinho (mutiladinho, coitado…)
e vai comer longe.

Esperamos a neve.
Mas só nevou três dias aqui em Tecumseh.

Todo Oklahoma espera pelo frio.

O Black parece pensar que a neve não vai chegar...
Anda lá pelo jardim, corre pelo bosque,
olha minhas tulipas que começam a despontar da terra.

Será a primavera que chega???

Achamos que sim.
Afinal, o gato preto — o meu Black — sabe das coisas!


Afinal, chegou a primavera.

Essa é a estação que encanta aqui…
As tulipas despontaram,
amarelas e negras — belíssimas!

Black ronda pelo bosque,
espicha o corpinho,
espreguiça,
tira sonecas.

Parece que há algo no ar...
Será uma nova gatinha no pedaço?
Sei lá.

O gato preto parece ensimesmado...

Uma noite de tempestade...
Trovões e raios.
Vento uivando.
Madrugada.

Escuto um miado bravo — bravo mesmo.
Mas curto e rouco.

O dia seguinte chega novo:
céu bem azul, poucas nuvens.

Não vejo o Black.

Coloco o leitinho dele (na temperatura que ele aprecia) perto da porta.
Nada do Black.

Bob diz para eu não me preocupar.
Afinal, Black é um gato.
E mais: um gato pirata!

Deve sim ter encontrado uma nova namoradinha por aí…

As horas se multiplicam.
Os dias passam.
Nada do meu Black.

Procuro por ele.
Chamo.
Falo doce.
Grito brava.

Mas… nada!

O Black desapareceu.
Como tantos personagens.
Como tantos heróis…

Simplesmente desapareceu.
Sem deixar rastros.
Nunca encontramos seu corpinho
para dar um lugar oficial de descanso.

Sumiu.

Não se sabe o que aconteceu com o temperamental Black,
meu gato pirata.

Ele se foi assim como viveu:
cheio de surpresas,
deixando um ponto de interrogação na sua ausência.

Te amo, Black.

E.C.


sábado, 28 de março de 2015

Mudando





Mudanças
Esther Crouch (Mucha)

Perto de completar 68 anos de idade,
começam a me visitar pensamentos nunca pensados…

Antes de tudo, preciso fazer uma confissão:
só comecei a sentir as marcas do tempo em meu rosto
e em meu corpo aos 60 anos.

Até aí, as mudanças não eram radicais
e eu sempre as utilizei em meu favor:
charme, caminho de vida, percalços.

História.

Marcas de uma vida vivida,
cheia de amor, tragédias, grandes alegrias,
decepções, aventuras incríveis,
derrotas amargas e batalhas vencidas.
Encontros e desencontros.

A partir dos 60, iniciei quase sem perceber uma nova etapa.
Agora, aos 68, percebo mudanças físicas
que vêm sendo acompanhadas por mudanças no meu interior.

Interessante.

Começo a ver as coisas sob um prisma diferente —
algumas nuances mais pálidas,
menos “cor total” como era antigamente…

As cores ficam, para mim, mais esmaecidas.

Me vejo, ao deitar a cabeça no travesseiro,
fazendo balanços do passado e do presente.

Sonhos em cores pastel.

Imagens de cenas vividas vêm como um filme,
um clipe.

Por vezes me pego sorrindo.
Outras, chorando.

E já não mais me surpreendo,
como acontecia no começo dessa nova etapa.

Aceitação é a palavra.
Acho…
Em vários graus.
Vários tons.

Essa é, sem dúvida, o começo de uma etapa maravilhosa —
onde expando minha consciência,
reavalio meus valores,
presto contas a mim mesma.

Engraçado como comecei a ser mais ordeira.

Coisas simples, como uma gaveta
atulhada de preciosidades e bobagens, tudo misturado…

Agora preciso de ordem.

Faço triagem.
O importante fica — e arrumo.
Cada coisa tem um lugar.
Um lugar para cada coisa.

As bobagens sem valor…
consigo jogar fora sem remorso.

Muito interessante esse critério.

Rolhas de champagne de 40 anos atrás, datadas.
Cartas de um primeiro grande amor.
Fotos — e mais fotos — de momentos.

Insubstituíveis tesouros.

Guardo coisas que fariam o incauto rir…
Jogo fora, ou dou, coisas que para muitos seriam importantes.

O rosto muda.

Meus olhos não são mais tão grandes.
Meus cabelos são grisalhos.
Minha boca está diferente.

O rosto muda.

Quero mais é ficar em casa.
Ler. Escrever.

Já não tenho mais alegria em shopping.
Não acho divertido.

Não preciso de nada.
Tenho tudo.

Coisas materiais, tenho-as todas.
Outras coisas me fazem falta —
e por escolhas (certas ou erradas), tenho… ou não.

Poucas pessoas me fazem falta.
Vergonha de dizer… muito poucas.

Comecei a colocar (ou tentar colocar) certa ordem no meu computador.
Exaspera-me perder um tempo enorme
procurando uma foto ou um escrito.

Receitas de pratos que faço sempre — e não preciso de receita…
misturadas com receitas que jamais farei
e sei que jamais farei.

Assim passo os dias,
pondo ordem em minha vidinha desorganizada.

Recolhendo objetos que apressadamente deixo estar em algum lugar.
Mudando de lugar coisas guardadas,
que com a triagem ganham mais espaço.

Assim são minhas noites.

Rezo antes de dormir,
e ao rezar, peço que HaShem olhe por minha alma enquanto durmo.

Acredito que, ao dormir, a alma viaja.
E sempre peço:
que me leve por mais entendimento,
que eu possa aprender mais,
que eu possa acordar (se tiver que acordar)
como uma pedra mais polida, mais brilhante.

É engraçado como a gente pode mudar…

Hoje, ao tomar o café da manhã com meu marido,
vi pela persiana uma senhora e um menino —
cada um com um cão —
se encontrarem em frente à minha casa.

Quando dei por mim,
estava lá fora, conversando com os dois estranhos
e acariciando os cães…

Até aí, nada de tão surpreendente —
afinal, sempre fui outgoing.

Mas eu estava de pijama e chinelo.
Sem maquiagem.
Com o cabelo preso num rabo de cavalo.

Ao me dar conta…
não me senti embaraçada.
Nem envergonhada.

Achei maravilhoso poder ter tido esse momento
e acariciar os dois bichinhos.

Algo me diz que
minha imagem interior está ficando mais importante.

Eu, que vaidosa fui toda a vida,
mas que sempre resenti
que as pessoas dessem mais importância ao meu rosto,
à minha aparência,
do que à minha cabeça,
meu espírito.

Mudanças.

E.C.

Presente de D's






(Para Minha Menina Querida)
by Mucha (E.C.)

Quando ela dorme,
dorme menina,
transpira anjo,
irradiando sol.

Acorda brilhante.
Olhos macios,
azul-cinzento,
mar à tardinha.

Batendo as pálpebras bem devagar —
asas de borboleta.

É primavera!
Colorida e doce.
"Algodão-doce".

Cabelo feito pra tocar —
seda pura, da mais pura.
O vento tem ciúmes…

Ela não anda.
Desliza.

Perfume.
Flor.
Nascida no verão,
destila alegria onde passa.

Enche de esperança e vida minha alma…

Minha menina,
flor do campo.

Criança boa,
fácil de lidar.
Confiável.
Sabedoria que transcende a idade.

É coisa de D’s.

Mão que apoia,
generosa amiga.

Sorriso farto.
Pérolas…

Embala meu sono.
Ela é a certeza.
Ela é a bondade.
Ela é o amor.

E.C.


Vento. Tempo.Estrada.




Um Sonho, Um Tempo
Esther Crouch (Mucha)

Um sonho, um tempo.
Uma flor, uma estrada.

O vento,
o cabelo solto da menina.

O balanço vazio,
uma criança que chora.
Uma lágrima em meio a um sorriso.

Saudade.

Saudade da cor, do verão,
do beijo do sol no corpo.

Saudade do riso fácil,
da emoção profunda,
do amor primeiro…

Aquele primeiro amor
que me seguirá ao fechar os olhos.

Crianças que brincam.
Tempo que passa.
Músicas…
muito Aznavour…

Você lembra?

Coração “de-pinote”,
rua sem saída,
perfume Zadig,
rímel da MaxFactor.

Calor, chuva, lágrimas,
muitas camélias.

Rio passando,
São Pedro da Aldeia chegando,
Búzios…

Assim vai a vida.
Assim se esvai o tempo.

Assim a brincadeira corre,
o mundo desperta,
a flor murcha,
a ilusão morre.

Olhos embaçados.
Cabelo grisalho.
Andar vagaroso.

Correr…
Para quê?

E.C.

Amiga......





Então, amiga…
Esther Crouch (Mucha)

Você, que conheci menina…
Tenho algumas tantas coisas pendentes para te dizer.

Preciso te contar que, ao correr dos anos,
você me surpreendeu.

Enfrentou e domou dragões,
quebrou vidros e espelhos,
subiu as escadas,
pegou a vida pelos cabelos…

Surpresas!
Sim, verdade.

Também eu, pelo meu lado, fiz mágicas — você sabe…

"Pinto que nasce em estrebaria nunca chega a ser cavalo"
não se aplica a quem sabe
“dar nó em pingo d’água”… rsrsrsrsrs

Que a minha querida Dona Sarah,
lá de onde está,
se alegre por ter cometido esse "errinho",
e se orgulhe da mãe dos “cavalos alados”
que, sendo dois, já se multiplicam por seis… rsrsrsrsrs

É gostoso ver nossos filhos andando por essa vida
em caminhos que se cruzam,
tornando-nos mais velhas — e, quem sabe, mais sábias.

(Espera… eu disse sábias?)

De minha parte, essa não é uma palavra
que eu usaria para me descrever…

Nestes anos, fui me desiludindo,
paulatinamente, com o ser humano em geral
e com alguns amigos em especial.

Sou de poucos amigos —
e por eles posso dar minha vida.

Mas cobro muito.
Assim como cobro de mim mesma… até o sangue.

Nunca tive misericórdia por amizades “convenientes” —
afinal, essas se tornam altamente inconvenientes
pelo preço que trazem consigo.

Não acredito,
simplesmente não compactuo
com falsidade,
nem com a velha desculpa da “falta de tempo”.

Mas… falando de você:
que se tornou linda, linda —
que já nasceu elegante
e soube tão bem domesticar dragões

Parabéns, amiga.

Você, para mim, é “gente grande”.
Daquelas que me orgulho de conhecer.

Sair “vestida de olho” —
quando os olhos são de verdade espelhos d’alma —
não é difícil.

Difícil mesmo é precisar de aceitação…
e não obter.

Terrível é delegar uma grande responsabilidade
e se ver traída num momento crucial,
quando o erro não tem volta.

Aí fica a dor —
não só do erro,
mas da decepção.
Gosto amargo na boca.

Poucos são os que carrego comigo.
De amigos verdadeiros, menos que os cinco dedos da mão.

Você é um deles.

Com nossos erros e acertos,
nossa amizade tem sobrevivido com graça e desenvoltura.

Sua presença, em inúmeras passagens difíceis da minha vida,
sempre foi uma constante —
e hoje são lembranças,
memórias que gosto de ter.

A vida passa.
E eu, que vim a passeio,
posso me alegrar de ter tido você como companheira —
mesmo quando o passeio teve fim trágico,
ou triste,
ou mesmo apenas medíocre.

Dê-me sua mão.
Vamos passear, minha… “correligionária”

(como diria o M…?)

Beijos,
Esther Crouch (Mucha)