quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Home-Sweet-Home




Home
(2017)

To get home is to take off your shoes and feel free from the demands of political correctness—which is often nothing but sheer hypocrisy.

I left Brazil, a country with a large Jewish community, where I had lived my entire adult life since the age of 18, surrounded by dear lifelong friends. Later, I spent 14 years in America, among goyim—Protestants, Catholics, and people of many other denominations. I didn’t leave close friends behind in America.

Living in Israel is something so intense, so deeply emotional, that it’s hard to put into words. Every day brings new surprises, little miracles, moments of wonder.

This morning, while ordering food at a restaurant, we struggled to explain what we wanted—our Hebrew is still limited, and the server spoke almost no English. A couple sitting behind us kindly stepped in to help, translating our order with warmth and good humor. What happened next was even more beautiful: they asked where we were from, and when we said we were olim, their kindness and affection only grew. They live not far from our home—she's a psychologist, he teaches at the university. We became friends. We’re neighbors now. Next week, we’re having dinner together.

Since our arrival, we’ve been meeting people from all walks of life—of all ages and backgrounds. Interesting people with stories to tell. Warm people. Friends who feel like family. And family who actually behave like friends.

Since we came here, magical things have happened every single day.

Making Aliyah is truly coming home. It’s walking without fear. It’s being able to speak to strangers—who aren't really strangers at all. I feel as if I’ve never lived anywhere else. I’m in my land, surrounded by my people, my family.

Yes, Israel has its problems, like any country. But they all seem small and insignificant compared to the greatness of simply living here.

I am deeply grateful to Hashem for giving me this life. Each day is a new adventure. Each day, a beautiful blessing.

Esther Crouch

domingo, 12 de fevereiro de 2017

A Visita.







Uma Visita Esperada

Que ela chegue sem fazer alarde.
Que pise macio, chegue mansamente.
Nem precisa se fazer anunciar.

Que venha como uma velha amiga,
com um rosto conhecido — se possível, bonito (senão, que ao menos seja um rosto de classe).

Que sua presença encha a casa com um bom perfume —
algo como Gio, de Armani (seria pedir demais?)
E que sua voz seja música aos meus ouvidos.

Eu pedi sem alarde...

Que ela chegue elegante.
Não contente — mas não precisa ser triste.
Pode trazer alguma ternura nos gestos,
e que esses gestos reflitam suaves e doces intenções...

E elegante, por favor.

Que possamos sentar e tomar um cafezinho muito gostoso,
bem servido em xícaras de porcelana fina,
com colherzinhas de prata de lei.

E então que ela converse comigo.
Me faça lembrar coisas boas —
como o colo protetor do meu Pai,
os sorrisos dos meus filhos amados,
o perfume do meu grande amor (Eau Sauvage),
o olhar do meu amigo querido —
presente em toda a minha trajetória.

Meu judaísmo,
que sempre me deu tanto orgulho.
Os amigos verdadeiros —
poucos, sim,
mas tão valiosos.

Que seus olhos espelhem a Esther mocinha,
cheia de vida,
tanta garra,
olhos grandes,
nariz adunco —
uma coruja asteca.
Muito maluca.

Que ela me faça sentir todo amor que dei —
e todo amor que recebi.
(E não foi pouco, não!)

Essas são as minhas joias.

Que, pela última vez, eu possa ver meu rosto no espelho
e bendizer cada ruga,
cada lágrima chorada,
cada sorriso —
marcas de uma vida muito vivida.
Vida cheia. Vida plena.

Que ela venha de mansinho e me tome pela mão,
do jeito que sempre desejei que minha mãe o fizesse.

Que me fale de coisas lindas —
planícies verdes,
bichos.
Muitos bichos.
Cães, gatos, cavalos, burrinhos, elefantes,
pássaros, baleias, pinguins, leões, tigres,
e quantidades de macacos.

Que eu possa segui-la levando meu Freud,
companheiro eterno,
amigo fiel,
fiel escudeiro,
inteligente pessoinha.

Que os olhos do Freud estejam bem tranquilos,
por sentir que a "Mamãe" não o abandona jamais.

Que eu possa deixar minha casa sem sentir a dor dos animais.
Isso é muito importante.

Que eu possa ir sabendo que nada ficou por fazer.
E que, se por ventura algo restar inacabado,
que não prejudique nem cause dor a ninguém.

Que ela não me traga dor.
Que me permita segui-la voluntariamente,
como se fôssemos almoçar juntas —
e depois assistir a um ballet,
ou dar uma passadinha numa vernissage de um bom artista novo.

Que ela me sele os olhos com duas moedas de ouro,
abrindo então a eternidade de sonho...

Que ela me leve completa.
Sem lágrimas,
sem lamentos,
sem gritos.

Que, ao partirmos, eu me sinta
livre, leve e solta
e muito junto ao meu D’s.

Que a alegria de não precisar mais de documentos,
passaportes, ID, carteira de motorista...
esteja presente.

Ah!!!
Que maravilha!

Que ela chegue sem fazer alarde.

E, por favor...
que não se faça esperar demais.

“Mucha” (Esther Crouch)

Saudade de mim




Saudade de Mim...

Então… vem aquela saudade.

Às vezes nem sei de onde ela chega — talvez de um perfume, uma flor, uma cor, um som, um gosto familiar...
Às vezes, um aroma disfarçado no vento, uma risada esquecida.

E então ela chega.
Penetra tua mente, preenche teus pensamentos.
Às vezes tão forte e persistente que, ao te envolver, te transporta a lugares longínquos, tempos passados, lágrimas choradas...
e muitas risadas.

Saudade de tudo.
Fome de cores, de sabores, de sons.

Pra brincar direito tem que fechar os olhos,
imaginar o corpo leve,
a alma transparente.

É preciso deixar que as sensações se misturem com as emoções.

Saudade... voilà!

Saudade de mim.
Da menina que fui —
mimada, dengosa, bonita, manhosa.

Saudade da maneira tão completa de sentir.
Plena de esperança — sem nem saber o que esperança era.

Olhos abertos, curiosos, ávidos de futuro,
sem prestar atenção ao presente.

Amanhã…
Amanhã é — e sempre será — mais colorido que hoje.

O passado não existia.
Só o futuro.
Como uma volta de montanha-russa.
O que vem pela frente? Novidade.

Pose de gente grande.
Cigarro na mão.
Muito rímel, pouco batom.

Diziam:
"Ela vai sair de olhos e de perfume.
Ninguém presta atenção na roupa que ela usa."

Muito rímel.
Sombra.
Pouco batom.

Perfume Zadig, de Emilio Pucci.
Perfume & Olhos.
Salto alto.
Cabelo liso e longo.

Olhos tristes.
Nariz adunco.
Quase uma coruja!

Alegria, Alegria” — Caetano.
“Sem lenço, nem documento.”
Ouvindo Chico passar com “A Banda”.

Muito champagne com Pino Donaggio,
Dalida rouca, chorando em francês...
Aznavour com seu “Désormais”...

Dourado.
Alegria.
Amor.
Paixão.

Tempo de aventura.
De poesia.
Do “Poetinha”.
De Búzios, Arraial do Cabo, Praia do Peró...
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos...

Ton-Ton”, “Cave” no fim da noite.
Dener Pamplona.
Quem???

Dener Pamplona, casado com sua linda Maristella Splendore...
Um luxo só!!!

Ele — verde e magro, quase um vampiro.
Ela — exuberante em cores, plácida em gestos.
Esplendorosa Maristella Splendore.

Le Bateau”, “Ton-Ton”, “Mau-Mau”...
Jantar na Baiuca, uma passadinha rápida pelo Dobrão na Oscar Freire.

Gente… que música é essa?!
Tenho de volta meus 17...

E os rostos queridos de então...

Então fecho os olhos, balanço a cabeça — e sorrio.

Tempo bom.
Estar viva.
Ser criança.
Não ter medos.
Valente!

“Vestir de novo meu casaco marrom...”

E é isso aí:

“Eu Te Amo, Meu Brasil, Eu Te Amo!”
“Ninguém Segura a Juventude do Brasil!”

Saudade de mim.

Esther Crouch (Mucha)