Meu Tuiuiú
Esther Crouch (Mucha), 2005
Ah… quando eu era menina, queria muito ter um passarinho.
Um pássaro. Um bichinho.
Conforme fui crescendo, fui ficando mais ambiciosa:
queria mesmo um belo pássaro — grande, se possível fosse.
Um dia, ganhei uma ave que, ao nascer, era bem sem atrativos.
Como toda ave ao nascer.
Cuidei dela, alimentei, limpei, brinquei, ensinei coisas.
Para mim, ela era a mais linda desse mundo —
afinal, era a minha ave.
Folheando livros de pássaros, um dia encontrei uma fotografia
de um quase adolescente…
E descobri que era um Tuiuiú —
igualzinho ao que HaShem tinha me dado pra criar.
Bem! Agora meu bichinho de asas já tinha um nome:
Tuiuiú.
Fui lendo, aprendendo mais sobre ele.
Fiquei toda orgulhosa ao descobrir que essa ave
é a ave-símbolo do Pantanal.
Cuidei, lavei, ensinei a rezar o Shema Israel
antes mesmo de ele aprender a dizer “mamãe”.
Ensinei.
Dei dicas de como pescar pra comer,
de como voar solo,
de como construir a vida com amizades verdadeiras.
Corri muito com ele (pois conto a vocês que meu Tuiuiú era macho).
Matriculei na melhor escola.
Fui buscar. Fui levar.
E mais aulas disso e daquilo.
Comidinha boa, pronta na hora.
As penas sempre limpinhas, brilhantes.
Brinquei com ele,
trouxe amiguinhos para brincar —
e ele foi crescendo.
Ele encheu minha vida de alegria
e meus dias de um sol brilhante e quentinho.
Ah… eu tinha o mais lindo e maravilhoso Tuiuiú.
HaShem foi bom pra mim.
Generoso mesmo.
Um dia, de adolescente, ele passou a Tuiuiú adulto.
Ele já sabia — e podia — sobreviver sem mim:
pescar, voar alto, empoleirar-se no topo das árvores.
Vi o bichinho de asas tornar-se um belo e magnífico pássaro.
Meu Tuiuiú cresceu.
Um dia ele me chamou pra contar
que havia encontrado uma parceira especial para a vida.
Alguém com quem ele iria voar pra longe,
pescar, e ter seus “tuiuiuzinhos”.
Foi assim que entendi:
HaShem nos empresta —
por um determinado tempo.
HaShem nos dá a honra de ser responsável:
de cuidar, alimentar,
ensinar a pescar
e a rezar…
Não foi sem lágrimas que compreendi
que o meu Tuiuiú nunca foi “meu”, de fato.
Mas, de fato,
eu o preparei para esse tempo,
para esse voo,
para essa grande aventura.
A maior prova de amor
é ensinar o gosto por essa grande aventura que é a vida.
A maior prova de amor
é deixar que o pássaro voe —
deixando as portas e janelas abertas,
para que possa ir em segurança.
Não retive meu Tuiuiú.
Não tentei segurá-lo quando chegou a hora.
Dei um beijo grande,
apertei-o uma vez mais de encontro ao meu peito,
e abri os braços —
para que ele voasse.
Alto.
Bem alto.
Até que meus olhos,
já não tão bons e jovens,
o perdessem de vista,
lá nas árvores, pelos arredores do céu.
Às vezes olho para esse céu
e tenho saudades do tempo
em que ele era pequeno e frágil,
e dependia de mim para protegê-lo.
Tenho saudade do meu Tuiuiú.
Mas agradeço por ter tido esse tempo com ele.
Tenho saudade…
mas também muito orgulho
do meu Tuiuiú.
E.C.




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