quarta-feira, 13 de agosto de 2025

A velha dos Gatos e a Garca

 

Introdução

Há histórias que não precisam de muitas palavras, apenas de um encontro.
Entre uma mulher, alguns gatos, e uma garça branca que chega todos os dias sem aviso, nasceu este pequeno conto silencioso.
As duas pinturas a seguir são retratos dessa mesma história — duas cenas que carregam o peso da espera e a doçura do encontro.
Talvez, ao olhar, você também sinta o que elas sentiram:
que o amor, às vezes, é apenas ficar.

A Pescadora e a Garça

Lá no Galil, onde as colinas abraçam o céu e o ar tem cheiro de terra quente, vivia uma mulher de cabelos longos e prateados. Ela cuidava de gatos, plantas e histórias. Sua vida já tinha conhecido mares bravios e calmarias, e ela sabia que cada dia trazia sua própria cor.

Todas as manhãs e fins de tarde, ela saía de casa para alimentar seus bichinhos. Levava potinhos de comida, água fresca e palavras suaves que só eles entendiam. E, quase sempre, uma garça branca aparecia, pousando perto, sem medo, como se já fosse parte da rotina.

A garça não pedia nada. Apenas ficava ali, olhando-a com olhos de quem vê além. E a mulher, com o tempo, começou a falar com ela: contava das dores que pesavam, das saudades que nunca partiam, e também das pequenas alegrias — como quando um gatinho novo se aproximava ou quando o vento trazia o cheiro do mar.

Num dia de calor insuportável, quando a tristeza parecia mais pesada que o sol, a garça se aproximou mais do que nunca. Trouxe no bico uma pequena folha verde, como se dissesse:
"Ainda há vida. Ainda há esperança. Estou aqui."

A mulher sorriu entre lágrimas. E entendeu: a garça era um presente enviado para lembrá-la de que mesmo quando o mundo é árido, há presenças que nos sustentam apenas por ficarem.
E assim, no silêncio cúmplice, pescadora e garça seguiram lado a lado — até que um dia, quando não fosse mais necessário, a garça abriria asas e partiria, deixando no ar não a ausência, mas a certeza de que ela tinha sido amada e guardada.


A Espera

Entre o sussurro das folhas e o olhar atento dos gatos,
ela senta-se no fim da tarde, sentindo o peso e a leveza do dia.
A garça, branca como promessa, aproxima-se sem pressa.
Não há urgência — só o silêncio que entende,
o tempo que se dobra sobre si mesmo,
e a certeza de que, mesmo no calor do mundo,
há um sopro fresco vindo de algum lugar.


O Encontro

O sol começa a se deitar sobre as colinas,
espalhando ouro líquido sobre cada pelo, cada pena, cada respiração.
Ali, no instante em que tudo parece parar,
os olhos da mulher e da garça se encontram.
Não há palavras — apenas um pacto silencioso,
costurado por todos os dias em que estiveram juntas,
como se o amor fosse isso:
ficar.

Esther & Lev



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