terça-feira, 25 de novembro de 2025

Minha Avo, Dona Julinha


6:30am- Karmi'EL
Chove! Nossa primeira chuva caiu essa madrugada, depois de um calor prolongado. O cheiro de terra grata inunda o ar, entra pelas janelas e dá um toque de novidade, de recomeço. O céu cinzento, cheio de nuvens carregadas, parece transportar mistérios. Sentada aqui na minha salinha aconchegante, me emociono ao lembrar de minha avó Julia, que tanto colo bom e perfumado me deu. Quando caía tempestade e eu me enrodilhava, me colava ao seu corpo, ela contava histórias e seus dedos deslizavam pelos meus cabelos. Quando os trovões me assustavam, ela dizia que não era nada demais, era só uma faxina no céu, com móveis sendo arrastados e muita água para deixar tudo brilhando...Vovó Julia explicava que os raios que iluminavam os céus logo após os trovões eram a maneira de chamar a atenção dos anjos para os cantinhos que ainda precisavam de mais um retoque, mais uma varridinha. Minha vovó Julia...foi uma mulher bela, de olhos tristonhos e grandes, de boca fina e de sorriso maroto.
E como contava bem histórias!
Ela foi a décima segunda noiva do vovô Socrates, a que "vingou"! rsrssrsrsrs. O vovô deixou alguns sonetos bonitos e apaixonados, parecendo ter sido encantado com os "pezinhos da Julinha", tinha soneto até para uma covinha da bochecha esquerda da vovó. Meus olhos se arregalavam quando a vovó contava sobre os capangas beduinos do opositor político do vovô que chegavam a cavalo (cavalos árabes!) Lembro que eu chegava a prender a respiração...Ela os recebia com café e bolinhos e com sacas de mantimentos para que levassem as suas famílias. Eles diziam que estavam ali para ter uma conversa com o "doutor" e ela os entretinha com os presentes até que se cansavam de tantos bolinhos e xícaras de café e iam embora, agradecendo a "Dona Julinha" por tudo; saíam carregados com as sacas de mantimentos e barrigas cheias de bolinhos! rsrs. Anos mais tarde chegaram a confessar que estavam ali com ordem de matar meu avô, mas que "dona Julinha" era tão doce e generosa para com suas famílias que eles não tinham tido a coragem de adentrar, forçar a passagem para procurar meu avô e levar a cabo a ordem final. Na verdade, meu avô estava em casa, de cama com uma enfermidade que o levaria embora aos trinta e quatro anos, deixando uma viúva rica, moça e bonita (além de inteligente e muito preparada), com dois filhos pequenos para criar. Histórias da minha avó...Contos de dias chuvosos, de quando eu era pequena e D's mandava fazer faxinha no céu.
Aqui em Karmi'el chove hoje. Chove muito e o encanto das conversas com a minha avó dá um colorido especial a essa manhã tão nublada e plumbea.
Acho que vou fazer uns "bolinhos de chuva"em homenagem a "Dona Julinha que tinha uma covinha linda na face esquerda e pezinhos delicados de princesa"!

E.C.

domingo, 9 de novembro de 2025

Yigal Amir Livre

 Carta Aberta: Trinta anos depois, é hora de reconsiderar a prisão de Yigal Amir

Trinta anos se passaram desde o trágico assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin — um momento que abalou profundamente a democracia israelense. A dor permanece, e a memória deve ser preservada. Mas a justiça precisa evoluir. Ela deve ter coragem de revisitar até mesmo seus capítulos mais dolorosos.
Yigal Amir, condenado pelo assassinato de Rabin, continua preso sob uma lei aprovada após o crime — uma legislação feita sob medida para impedir sua libertação. Essa lei retroativa fere o princípio da igualdade perante a lei e estabelece um precedente perigoso: o de que a justiça pode ser reescrita para atender à emoção, e não à razão.
Na época do crime, Amir tinha apenas 25 anos. Como tantos jovens, estava imerso em ideologias radicais, influenciado por um ambiente político polarizado e por discursos inflamados que circulavam livremente. Seu ato foi grave, mas também fruto de uma juventude tomada por convicções absolutas e imaturidade emocional. Em qualquer democracia saudável, reconhecemos que jovens podem errar profundamente — e que, com o tempo, podem mudar.
Enquanto isso, o Estado de Israel já libertou centenas de prisioneiros palestinos condenados por crimes hediondos — incluindo terroristas responsáveis por assassinatos em massa de civis inocentes. Muitos foram soltos como parte de acordos políticos, trocas de prisioneiros ou gestos diplomáticos. Se monstros que mataram famílias inteiras podem ser libertados, por que o mesmo princípio não se aplica a Yigal Amir?
Essa não é uma proposta de esquecimento. É um chamado para honrar os valores que Rabin defendia: justiça, coragem e integridade democrática. Yigal Amir está preso há 30 anos. Ele não representa mais uma ameaça à segurança nacional. Sua permanência na prisão, sustentada por uma lei personalizada e retroativa, não é justiça — é vingança.
Se Israel deseja ser uma democracia madura, precisa ter coragem de reexaminar até mesmo suas feridas mais profundas. Porque uma justiça que se recusa a evoluir transforma-se em punição sem propósito. E esse não é o legado que Rabin teria desejado.
por Esther Crouch

Yigal Amir Free

 Open Letter: Thirty Years Later, It’s Time to Reconsider Yigal Amir’s Imprisonment

Thirty years have passed since the tragic assassination of Prime Minister Yitzhak Rabin — a moment that shook Israel’s democracy to its core. The pain remains, and the memory must be honored. But justice must evolve. It must be courageous enough to revisit even its most painful chapters.
Yigal Amir, the man convicted of Rabin’s murder, remains imprisoned under a law passed after the crime — a law crafted specifically to prevent his release. This retroactive legislation violates the principle of equality before the law and sets a dangerous precedent: that justice can be rewritten to suit emotion rather than reason.
At the time of the crime, Amir was just 25 years old. Like many young people, he was swept up in radical ideologies and political fervor. His act was grave, but also the product of youthful absolutism and emotional immaturity. In any healthy democracy, we recognize that young people can change — and that punishment must be proportional, not eternal.
Meanwhile, Israel has released hundreds of Palestinian prisoners convicted of horrific acts of terrorism — including mass murderers of innocent civilians. These releases were justified by diplomacy, negotiation, and national interest. If such individuals can be granted clemency, why is Amir uniquely excluded from the possibility of review?
This is not a call to forget. It is a call to uphold the very values Rabin stood for: fairness, courage, and democratic integrity. Yigal Amir has served 30 years in prison. He no longer poses a threat to national security. His continued imprisonment under a personalized, retroactive law is not justice — it is vengeance.
If Israel wishes to be a mature democracy, it must be willing to reexamine even its deepest wounds. Justice that refuses to evolve becomes punishment without purpose. And that is not the legacy Rabin would have wanted.
By Esther Crouch