6:30am- Karmi'EL
Chove! Nossa primeira chuva caiu essa madrugada, depois de um calor prolongado. O cheiro de terra grata inunda o ar, entra pelas janelas e dá um toque de novidade, de recomeço. O céu cinzento, cheio de nuvens carregadas, parece transportar mistérios. Sentada aqui na minha salinha aconchegante, me emociono ao lembrar de minha avó Julia, que tanto colo bom e perfumado me deu. Quando caía tempestade e eu me enrodilhava, me colava ao seu corpo, ela contava histórias e seus dedos deslizavam pelos meus cabelos. Quando os trovões me assustavam, ela dizia que não era nada demais, era só uma faxina no céu, com móveis sendo arrastados e muita água para deixar tudo brilhando...Vovó Julia explicava que os raios que iluminavam os céus logo após os trovões eram a maneira de chamar a atenção dos anjos para os cantinhos que ainda precisavam de mais um retoque, mais uma varridinha. Minha vovó Julia...foi uma mulher bela, de olhos tristonhos e grandes, de boca fina e de sorriso maroto.
E como contava bem histórias!
Ela foi a décima segunda noiva do vovô Socrates, a que "vingou"! rsrssrsrsrs. O vovô deixou alguns sonetos bonitos e apaixonados, parecendo ter sido encantado com os "pezinhos da Julinha", tinha soneto até para uma covinha da bochecha esquerda da vovó. Meus olhos se arregalavam quando a vovó contava sobre os capangas beduinos do opositor político do vovô que chegavam a cavalo (cavalos árabes!) Lembro que eu chegava a prender a respiração...Ela os recebia com café e bolinhos e com sacas de mantimentos para que levassem as suas famílias. Eles diziam que estavam ali para ter uma conversa com o "doutor" e ela os entretinha com os presentes até que se cansavam de tantos bolinhos e xícaras de café e iam embora, agradecendo a "Dona Julinha" por tudo; saíam carregados com as sacas de mantimentos e barrigas cheias de bolinhos! rsrs. Anos mais tarde chegaram a confessar que estavam ali com ordem de matar meu avô, mas que "dona Julinha" era tão doce e generosa para com suas famílias que eles não tinham tido a coragem de adentrar, forçar a passagem para procurar meu avô e levar a cabo a ordem final. Na verdade, meu avô estava em casa, de cama com uma enfermidade que o levaria embora aos trinta e quatro anos, deixando uma viúva rica, moça e bonita (além de inteligente e muito preparada), com dois filhos pequenos para criar. Histórias da minha avó...Contos de dias chuvosos, de quando eu era pequena e D's mandava fazer faxinha no céu.
Aqui em Karmi'el chove hoje. Chove muito e o encanto das conversas com a minha avó dá um colorido especial a essa manhã tão nublada e plumbea.
Acho que vou fazer uns "bolinhos de chuva"em homenagem a "Dona Julinha que tinha uma covinha linda na face esquerda e pezinhos delicados de princesa"!
E.C.
Chove! Nossa primeira chuva caiu essa madrugada, depois de um calor prolongado. O cheiro de terra grata inunda o ar, entra pelas janelas e dá um toque de novidade, de recomeço. O céu cinzento, cheio de nuvens carregadas, parece transportar mistérios. Sentada aqui na minha salinha aconchegante, me emociono ao lembrar de minha avó Julia, que tanto colo bom e perfumado me deu. Quando caía tempestade e eu me enrodilhava, me colava ao seu corpo, ela contava histórias e seus dedos deslizavam pelos meus cabelos. Quando os trovões me assustavam, ela dizia que não era nada demais, era só uma faxina no céu, com móveis sendo arrastados e muita água para deixar tudo brilhando...Vovó Julia explicava que os raios que iluminavam os céus logo após os trovões eram a maneira de chamar a atenção dos anjos para os cantinhos que ainda precisavam de mais um retoque, mais uma varridinha. Minha vovó Julia...foi uma mulher bela, de olhos tristonhos e grandes, de boca fina e de sorriso maroto.
E como contava bem histórias!
Ela foi a décima segunda noiva do vovô Socrates, a que "vingou"! rsrssrsrsrs. O vovô deixou alguns sonetos bonitos e apaixonados, parecendo ter sido encantado com os "pezinhos da Julinha", tinha soneto até para uma covinha da bochecha esquerda da vovó. Meus olhos se arregalavam quando a vovó contava sobre os capangas beduinos do opositor político do vovô que chegavam a cavalo (cavalos árabes!) Lembro que eu chegava a prender a respiração...Ela os recebia com café e bolinhos e com sacas de mantimentos para que levassem as suas famílias. Eles diziam que estavam ali para ter uma conversa com o "doutor" e ela os entretinha com os presentes até que se cansavam de tantos bolinhos e xícaras de café e iam embora, agradecendo a "Dona Julinha" por tudo; saíam carregados com as sacas de mantimentos e barrigas cheias de bolinhos! rsrs. Anos mais tarde chegaram a confessar que estavam ali com ordem de matar meu avô, mas que "dona Julinha" era tão doce e generosa para com suas famílias que eles não tinham tido a coragem de adentrar, forçar a passagem para procurar meu avô e levar a cabo a ordem final. Na verdade, meu avô estava em casa, de cama com uma enfermidade que o levaria embora aos trinta e quatro anos, deixando uma viúva rica, moça e bonita (além de inteligente e muito preparada), com dois filhos pequenos para criar. Histórias da minha avó...Contos de dias chuvosos, de quando eu era pequena e D's mandava fazer faxinha no céu.
Aqui em Karmi'el chove hoje. Chove muito e o encanto das conversas com a minha avó dá um colorido especial a essa manhã tão nublada e plumbea.
Acho que vou fazer uns "bolinhos de chuva"em homenagem a "Dona Julinha que tinha uma covinha linda na face esquerda e pezinhos delicados de princesa"!
E.C.
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