segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

So borboletas hoje

 e



Shared with Public
Vamos comer flor? Hoje não, hoje quero só borboletas...Azuis, verdes, amarelinhas (das bem pequenininhas), aquelas pintadas de cor de maravilha...Ai que vontade que dá...de voar, voar bem alto, atingir as nuvens e sentar numa delas bem redondinha e rechonchuda e ficar de binóculo observando as gaivotas dançarem pelo céu azul.
Aí vem chegando a primeira estrelinha, aquela que brilha só para quem comeu borboletas azuis. E...EU COMI DUAS! Elas estão dançando no meu estômago e voando pelas minhas palpebras de tão alegres que estão em poder mais uma vez brincar de pega-pega com a estrelinha...
GENTE??? Juro que nao bebi!kkkkk

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Minha Avo, Dona Julinha


6:30am- Karmi'EL
Chove! Nossa primeira chuva caiu essa madrugada, depois de um calor prolongado. O cheiro de terra grata inunda o ar, entra pelas janelas e dá um toque de novidade, de recomeço. O céu cinzento, cheio de nuvens carregadas, parece transportar mistérios. Sentada aqui na minha salinha aconchegante, me emociono ao lembrar de minha avó Julia, que tanto colo bom e perfumado me deu. Quando caía tempestade e eu me enrodilhava, me colava ao seu corpo, ela contava histórias e seus dedos deslizavam pelos meus cabelos. Quando os trovões me assustavam, ela dizia que não era nada demais, era só uma faxina no céu, com móveis sendo arrastados e muita água para deixar tudo brilhando...Vovó Julia explicava que os raios que iluminavam os céus logo após os trovões eram a maneira de chamar a atenção dos anjos para os cantinhos que ainda precisavam de mais um retoque, mais uma varridinha. Minha vovó Julia...foi uma mulher bela, de olhos tristonhos e grandes, de boca fina e de sorriso maroto.
E como contava bem histórias!
Ela foi a décima segunda noiva do vovô Socrates, a que "vingou"! rsrssrsrsrs. O vovô deixou alguns sonetos bonitos e apaixonados, parecendo ter sido encantado com os "pezinhos da Julinha", tinha soneto até para uma covinha da bochecha esquerda da vovó. Meus olhos se arregalavam quando a vovó contava sobre os capangas beduinos do opositor político do vovô que chegavam a cavalo (cavalos árabes!) Lembro que eu chegava a prender a respiração...Ela os recebia com café e bolinhos e com sacas de mantimentos para que levassem as suas famílias. Eles diziam que estavam ali para ter uma conversa com o "doutor" e ela os entretinha com os presentes até que se cansavam de tantos bolinhos e xícaras de café e iam embora, agradecendo a "Dona Julinha" por tudo; saíam carregados com as sacas de mantimentos e barrigas cheias de bolinhos! rsrs. Anos mais tarde chegaram a confessar que estavam ali com ordem de matar meu avô, mas que "dona Julinha" era tão doce e generosa para com suas famílias que eles não tinham tido a coragem de adentrar, forçar a passagem para procurar meu avô e levar a cabo a ordem final. Na verdade, meu avô estava em casa, de cama com uma enfermidade que o levaria embora aos trinta e quatro anos, deixando uma viúva rica, moça e bonita (além de inteligente e muito preparada), com dois filhos pequenos para criar. Histórias da minha avó...Contos de dias chuvosos, de quando eu era pequena e D's mandava fazer faxinha no céu.
Aqui em Karmi'el chove hoje. Chove muito e o encanto das conversas com a minha avó dá um colorido especial a essa manhã tão nublada e plumbea.
Acho que vou fazer uns "bolinhos de chuva"em homenagem a "Dona Julinha que tinha uma covinha linda na face esquerda e pezinhos delicados de princesa"!

E.C.

domingo, 9 de novembro de 2025

Yigal Amir Livre

 Carta Aberta: Trinta anos depois, é hora de reconsiderar a prisão de Yigal Amir

Trinta anos se passaram desde o trágico assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin — um momento que abalou profundamente a democracia israelense. A dor permanece, e a memória deve ser preservada. Mas a justiça precisa evoluir. Ela deve ter coragem de revisitar até mesmo seus capítulos mais dolorosos.
Yigal Amir, condenado pelo assassinato de Rabin, continua preso sob uma lei aprovada após o crime — uma legislação feita sob medida para impedir sua libertação. Essa lei retroativa fere o princípio da igualdade perante a lei e estabelece um precedente perigoso: o de que a justiça pode ser reescrita para atender à emoção, e não à razão.
Na época do crime, Amir tinha apenas 25 anos. Como tantos jovens, estava imerso em ideologias radicais, influenciado por um ambiente político polarizado e por discursos inflamados que circulavam livremente. Seu ato foi grave, mas também fruto de uma juventude tomada por convicções absolutas e imaturidade emocional. Em qualquer democracia saudável, reconhecemos que jovens podem errar profundamente — e que, com o tempo, podem mudar.
Enquanto isso, o Estado de Israel já libertou centenas de prisioneiros palestinos condenados por crimes hediondos — incluindo terroristas responsáveis por assassinatos em massa de civis inocentes. Muitos foram soltos como parte de acordos políticos, trocas de prisioneiros ou gestos diplomáticos. Se monstros que mataram famílias inteiras podem ser libertados, por que o mesmo princípio não se aplica a Yigal Amir?
Essa não é uma proposta de esquecimento. É um chamado para honrar os valores que Rabin defendia: justiça, coragem e integridade democrática. Yigal Amir está preso há 30 anos. Ele não representa mais uma ameaça à segurança nacional. Sua permanência na prisão, sustentada por uma lei personalizada e retroativa, não é justiça — é vingança.
Se Israel deseja ser uma democracia madura, precisa ter coragem de reexaminar até mesmo suas feridas mais profundas. Porque uma justiça que se recusa a evoluir transforma-se em punição sem propósito. E esse não é o legado que Rabin teria desejado.
por Esther Crouch

Yigal Amir Free

 Open Letter: Thirty Years Later, It’s Time to Reconsider Yigal Amir’s Imprisonment

Thirty years have passed since the tragic assassination of Prime Minister Yitzhak Rabin — a moment that shook Israel’s democracy to its core. The pain remains, and the memory must be honored. But justice must evolve. It must be courageous enough to revisit even its most painful chapters.
Yigal Amir, the man convicted of Rabin’s murder, remains imprisoned under a law passed after the crime — a law crafted specifically to prevent his release. This retroactive legislation violates the principle of equality before the law and sets a dangerous precedent: that justice can be rewritten to suit emotion rather than reason.
At the time of the crime, Amir was just 25 years old. Like many young people, he was swept up in radical ideologies and political fervor. His act was grave, but also the product of youthful absolutism and emotional immaturity. In any healthy democracy, we recognize that young people can change — and that punishment must be proportional, not eternal.
Meanwhile, Israel has released hundreds of Palestinian prisoners convicted of horrific acts of terrorism — including mass murderers of innocent civilians. These releases were justified by diplomacy, negotiation, and national interest. If such individuals can be granted clemency, why is Amir uniquely excluded from the possibility of review?
This is not a call to forget. It is a call to uphold the very values Rabin stood for: fairness, courage, and democratic integrity. Yigal Amir has served 30 years in prison. He no longer poses a threat to national security. His continued imprisonment under a personalized, retroactive law is not justice — it is vengeance.
If Israel wishes to be a mature democracy, it must be willing to reexamine even its deepest wounds. Justice that refuses to evolve becomes punishment without purpose. And that is not the legacy Rabin would have wanted.
By Esther Crouch

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Uma Mulher Inteira

 



Além da Beleza: O Retrato de Uma Mulher Inteira

Uma crônica sobre ser vista, ser mal interpretada, e nunca deixar de ser verdadeira.

Introdução Durante décadas, ouvi que era bonita. Todos os dias, até os meus 60 e poucos anos, essa frase me acompanhava como uma sombra luminosa. Mas o que poucos sabiam — e menos ainda se deram ao trabalho de descobrir — é que por trás da aparência havia uma alma inquieta, uma mente afiada, uma mulher que jamais se contentaria em ser apenas admirada. Esta é a história dessa mulher. A minha história.

Retrato de uma mulher que nunca foi só o que se via

Ela nasceu com olhos grandes, boca pequena, cabelos lisos e uma delicadeza que fazia o mundo parar. Desde cedo, ouviu que era linda. E continuou ouvindo — por décadas, todos os dias. Mas o que ninguém sabia é que, por trás da beleza, havia uma alma inquieta, uma mente afiada, uma mulher que jamais se contentaria em ser apenas admirada.

Ela cresceu em meio a brigas, aos seis ou sete anos já sabia que o amor podia ser barulhento e confuso. Aprendeu a observar, a decifrar silêncios, a ler entonações. Tornou-se uma especialista em perceber o que não era dito. E isso a isolou. Virou uma bolha. Uma lente. Uma proteção.

Mas ela não se calou. Quando não a enxergavam por dentro, ela provocava. Usava o sarcasmo como bisturi, a rebeldia como megafone. Queria espaço para mostrar sua bagagem — feita de estudo, de fé, de dor, de arte, de coragem. E conseguiu. Às vezes com choque. Às vezes com ternura.

Foi mal interpretada muitas vezes. Por ser bonita. Por ser livre. Por rir alto. Por brincar com o mundo como quem sabe que a vida é breve demais para se levar tão a sério. Mas ela nunca deixou de ser ela. Nunca se moldou ao que esperavam. Nunca se apagou.

Dois homens a viram por inteiro. Dois amores que souberam atravessar a superfície e tocar a alma. E isso bastou. Porque ela não precisava de muitos — só de verdade.

Hoje, aos 75, ela alimenta gatos, cozinha com afeto, e carrega uma história que daria um livro. Ou uma revolução. Ou uma oração.

Ela é feita de luz e sombra. De beleza e profundidade. De riso e resistência. Ela é feita de tudo o que não cabe numa primeira impressão.

Epílogo: A mulher no fio

Se eu pudesse me descrever com uma imagem, seria assim:

Uma mulher de cabelos grisalhos, longos e livres, vestida com uma túnica indiana esvoaçante, caminhando descalça sobre o fio de um arame estendido entre os prédios altos de uma cidade. Lá embaixo, o mundo segue apressado, distraído, ruidoso. Mas aqui em cima, eu me equilibro — com os braços abertos, o vento tocando minha pele, o coração firme.

Não é sobre risco. É sobre escolha. Não é sobre medo. É sobre coragem. Não é sobre aparência. É sobre essência.

Essa sou eu. E quem tiver olhos para ver — verá.

domingo, 5 de outubro de 2025

Massacre 7 Outubro

 




Massacre

Essa guerra está pondo a perder minha humanidade. Compaixão pelo inimigo...?  Fui um dia uma pessoa com mais ternura, mais suavidade. Não nasci assim, dura. Hoje tenho uma compaixão e ternura "seletivas". 

Fui ao oftalmologista a me queixar dos olhos e o doutor me disse que meus olhos estavam secos, sem lágrimas...Interessante o timing.  Deu-me uma prescrição de lágrimas artificiais. Tres vezes ao dia, uma gota em cada olho. Lágrimas sem emoção, bem se vê!

Fui criada para acreditar no bom coração das pessoas, na busca de justiça para todos. Tudo balela.


Quem busca justiça para meu povo? Quem nos dá o benefício da dúvida? Quem nos protege, quem ouve nossos gritos? Quem apazigua nossa dor? Direitos Humanos e um LUXO que não existe para nós JUDEUS, como se humanos não fossemos. A Cruz Vermelha nunca visitou nossos reféns. É um LUXO que não é para minha gente.

Surpreendo-me sem piedade para com o inimigo. Tenho amor por todos os animais, cuido como posso e por vezes ate sem poder, me esforco pelos animais, para dar bem estar, matar a fome, cuidar no frio. 

Por minha gente dou a vida se preciso for. Nem me atenho muito hoje em dia se estamos completamente certos ou se algum erro cometemos. Para mim agora estamos sempre certos, temos razão sempre. 

Essa guerra está a fazer de mim uma pessoa dura, muito embora não amarga. Contudo, guardo mesmo  o que ainda há de doce em meu coração para minha gente e para os animais. De resto tenho sempre o olhar distante, caminho pisando no meu chão, na minha terra regada pelo nosso sangue e pelas nossas lágrimas. Acreditei um dia que deveria estar pronta a ser a voz dos sem voz, sem importar cor, tamanho, forma, nacionalidade, raça ou crença. Não mais. 

Que HaShem se apiede de minha alma e ilumine meus caminhos.

E.C.

domingo, 21 de setembro de 2025

No fio da vida

 “Sou a bailarina — cabelos ao vento, pés descalços, guarda-sol aberto. Caminho no fio da vida com graça e coragem, sabendo que há um pequeno furo na meia rendada… mas sigo dançando. Porque viver é isso: equilíbrio entre o riso e a queda, entre o sonho e a memória.”


Quem sou eu

Sou mulher, judia e carrego três nacionalidades no coração: brasileira, americana e israelense. Mais do que isso, sou uma sonhadora — uma bailarina que caminha no fio de arame lá nas alturas, com um guarda-sol aberto e um pequeno furo na meia rendada. Sei que o furo está lá, mas sigo dançando com graça, buscando equilíbrio entre o riso e a lágrima.

Minha estrada é longa, minha vida absurda — cheia de amor, cheia de histórias, e felizmente, muito amada. Levo comigo Violeta, minha companheirinha de aventuras e desventuras, e este blog é nosso cantinho despretensioso: um lugar para abrir o coração, deixar voar os pássaros que vivem na minha cabeça maluca e servir um café imaginário aos amigos queridos que passam por aqui.

Esther Crouch ( Mucha)



Linhas Paralelas

 

Linhas Paralelas

Um conto de amor, reverência e esperança

Introdução: Nem toda história de amor termina com um “felizes para sempre”. Algumas atravessam décadas, continentes, religiões, famílias e ainda assim permanecem vivas — mesmo que invisíveis. Esta é a história de uma mulher que viveu intensamente, amou profundamente, sofreu com dignidade e encontrou, no fim, uma paz perfumada entre jasmins e gatos. Uma história real, contada com delicadeza, sem nomes, mas cheia de identidade.

Texto: Ela nasceu em São Paulo, entre flores e festas, mimada pelo pai como uma princesa de contos antigos. Os olhos grandes, castanhos e curiosos pareciam sempre à procura de algo além. Os cabelos longos escorriam pelas costas como seda viva. E o perfume… ah, o perfume. Zadig, de Emilio Pucci — um aroma raro, elegante, que a envolvia como uma assinatura invisível.

Seu pai a tratava como uma joia. Mimada, sim — mas com afeto, com orgulho, com ternura, a fazia sentir que o mundo era seguro, belo, possível. O melhor colo, lugar seguro no mundo. E ela acreditava. Até o dia em que o encontrou sem vida. Um acidente. Um silêncio. E a menina que falava com os olhos, calou-se por meses.

A arte a salvou. A FAAP a recebeu como quem entende almas feridas. Entre pincéis e telas, ela começou a se reconstruir. Mas algo ainda faltava. A fé herdada já não bastava. A dor abriu espaço para perguntas. E as respostas começaram a surgir com os amigos judeus, nas festas judaicas, nas aulas que a faziam levitar, nos olhares que a acolhiam. Foi se aproximando da comunidade judaica como quem encontra uma terra prometida dentro de si.

E então, como nas grandes histórias, veio o amor.

Um homem sete anos mais velho, de uma família tradicional, a amava com devoção. Ela, com entrega. Foram nove anos de amor profundo, mas também de resistência. A família dele não aceitava. Ela não era nascida judia. E um edito ancestral proibia bênçãos fora do padrão.

Ela foi para Israel. Trabalhou num kibbutz. Sobreviveu a um atentado no Golan. E ele, lá do Brasil, pediu sua mão. Ela voltou. Vestido pronto. Convites enviados. Apartamento arrumado. Mas a família o sequestrou. Ele desapareceu na Suíça. Ela, numa clínica de repouso, buscando nos sonhos o que a realidade lhe negava.

Quando ele voltou, voltaram a se ver. Mas agora era escondido. E então, trouxeram da Europa uma  pessoa. Ele se casou com outra — uma moça da mesma origem, aparentada com a mãe. “É melhor assim”, ele disse. “Você ainda pode se casar bem. Se eu não me casar, você não se casará nunca.”

Ela foi para Minnesota. Converteu-se com o Chabad. Ao voltar ao Brasil, seu rabino fez um shidur e ela casou-se com um estranho, visto apenas três vezes. Teve dois filhos — sua vida. Criou-os com fé, com firmeza, com amor. Quando cresceram, divorciaram-se. Porque liberdade, para ela, sempre foi mais que sonho — foi escolha.

Aos 50, encontrou um companheiro. Americano, com seis filhos e duas ex-esposas já falecidas. Casaram-se nos Estados Unidos. Não foi fácil, mas foi verdadeiro. Em 2014, fizeram Aliyah. Hoje vivem em Karmiel, felizes.

E o mais curioso: seus filhos estudaram com os filhos do grande amor. Frequentaram os mesmos restaurantes, as mesmas festas. Linhas paralelas — tão próximas, tão distantes. Nunca se cruzaram. Nunca se esqueceram.

As pessoas os chamavam de “A Bela e a Fera”. Ela ri disso até hoje. Porque no fundo, sabe que foi bela. E que ele era mesmo fera, de uma inteligência impar e a amou como ninguém no mundo.

Hoje, ela vive uma vida simples. E isso, para quem já dançou entre festas e perfumes raros, é um luxo silencioso. Mora num bairro encantador no norte de Israel, onde as manhãs começam com o canto das aves e o perfume dos jasmins que rodeiam as grades do prédio. À frente da janela, uma tamareira a cumprimenta todos os dias, como uma velha amiga que conhece seus segredos.

Às seis da manhã e às seis da tarde, ela sai — sem maquiagem, de sandálias, com o coração leve — para alimentar os gatos da esquina. Eles a esperam como quem reconhece nela uma alma irmã. E ela os cuida como quem entende que o amor não precisa de palavras.

Acorda olhando para as montanhas da Galileia. E ali, entre o verde e o silêncio, ela encontra o que sempre buscou: paz. Não a paz da ausência de dor, mas a paz da aceitação. A paz de quem viveu tudo o que podia — e agora repousa entre perfumes, lembranças e miados.

Ela é avó, mãe, amiga, artista, sobrevivente. E acima de tudo, é ela mesma. Aquela que amou, que lutou, que se reinventou. E que hoje, entre gatos e jasmins, continua sendo poesia.

Encerramento: Se você leu até aqui, talvez tenha sentido que esta história também fala um pouco de você. Porque todos temos nossas linhas paralelas — amores que não se cruzaram, escolhas que nos transformaram, silêncios que nos ensinaram. E se há algo que este conto deixa como legado, é que viver com verdade é o maior ato de esperança.

De uma maneira ou de outra fica a sensação de que as   palavras sempre limitam a grandiosidade de uma emoção...

E.C.

domingo, 14 de setembro de 2025

A Vida como ela e.




 A Vida como ela e.

Lembro bem do tempo em que, eu mocinha, até mesmo ao entrar nos 30, só precisava de um bom shampoo, máscara Max Factor e um bom perfume para me sentir pronta para encarar o mundo.
O tempo foi passando muito lentamente e, gradualmente, o makeup foi aumentando. Um pouco de corretivo aqui e acola, um bronze para dar vida, dos 40 em diante. Uma base mais consistente, quem sabe...? Até chegar aos 60 foi assim, com os apetrechos de maquiagem como aliados fieis, os cílios longos e um bater de pálpebras em slow motion. Dai em diante os arificios foram decrescendo, os sorrisos se multiplicando, e eu quase que voltando à etapa inicial do bom shampoo e o melhor perfume.
A Vida como ela e. Uma passarela dourada, cheia de percalços que quase ninguém vê, que você aprende a ultrapassar tentando ser graciosa e valente, brava.
Reinventando sempre.
Feliz aos 75!
E.C.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Luto





Dias de Luto

Temos vivido dias de imensa tristeza.
Israel está de luto — estamos todos enlutados.
Um país inteiro em luto.

Desde o dia 7 de Outubro de 2023, temos enfrentado dias amargos, perdas irreparáveis. Mas esta semana… ah, esta semana foi especialmente violenta.
Vimos o rosto horrendo do ódio.
Vimos a expressão crua da barbárie, da violência injustificável, do mais baixo instinto humano.

Desde a última sexta-feira, estamos incrédulos.
Boquiabertos.
Dilacerados.

Eles não vão nos entregar nenhum refém.
Nunca tiveram intenção de entregar alguém com vida.
Infelizmente, ainda precisamos aprender a conhecer melhor os nossos vizinhos…

O Primeiro-Ministro está certo:
Não ceder mais nada.
Acabar com o Hamas.
Acabar com o Hezbollah.
E finalmente montar um governo forte — um governo que não se curve a palpites de quem não dá conta nem de limpar a própria casa.

Que possamos acreditar no futuro.
Que nossas crianças cresçam sem medo.
Que os jovens voltem a dançar…

Hoje estou triste.
Estamos todos tristes.

Mas amanhã…
Amanhã vamos nos levantar e bendizer um novo dia.

Que HaShem nos ajude e nos guarde.
Que olhe para Seu povo com benevolência e nos traga conforto.

Hoje estamos todos muito tristes.

E.C.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Am Israel Chai




 B'H

Am Israel Chai!
Sou uma mulher realizada, você sabe. Muito cedo encontrei meu caminho, cheio de percalços, mas muito claro tratando-se de direção e propósito. Não atingi a perfeição, porém posso dizer que sempre a busquei. Continuo na busca.
Amei e fui muito amada, amo e sou amada. Muito.
Encontrei minha gente, meu povo e tenho a sensação de que em meio dessa gente nasci e vivi. Vivo! Pertencer, integrar, criar lacos.
Desde os meus dezenove anos caminho com esse amor que me deslumbra e ilumina mesmo com as lágrimas que chorei e choro por vezes...sigo feliz por ter esse grande privilégio de pertencer. Fui feliz e sou muito feliz.
Vivo em Israel
E.C.

Alma

 




  Carta da Alma

Não chores pensando que deixei de existir.
O que partiu foi apenas a roupa que vestia —
um casaco gasto pelo tempo.
Eu continuo viva,
mais leve do que nunca,
cercada de luz que não cabe em palavras.

Sinto tua saudade como um fio de prata
que me liga a ti de onde estou.
Cada prece tua é uma ponte,
cada ato de bondade em meu nome
chega até mim como um abraço suave.

Não me busques entre as cinzas,
pois não sou ausência —
sou presença invisível,
sou memória acesa,
sou centelha de D’us que nada pode apagar.

E haverá um tempo,
quando o mundo se encher de redenção,
em que caminharemos juntos outra vez.
Nossos olhos se reencontrarão,
e saberemos que nunca houve separação,
apenas distância breve
entre uma vida e outra.

Até lá, estarei contigo em silêncio.
Fico quando pensas que parti.
Fico quando teu coração chama por mim.
Fico sempre,
porque amor verdadeiro não conhece fim.


E.C. 


Alma-Árvore

 




A Alma-Árvore

Em ti vivem séculos,
mesmo que o corpo conte apenas décadas.
Tua alma é árvore antiga,
com raízes que já tocaram rios esquecidos
e folhas que já sentiram ventos de muitas terras.

No tronco há cicatrizes —
cada uma guarda um nome,
um amor,
uma dor,
um aprendizado.
E, ainda assim,
das fendas brotam flores inesperadas,
como se a própria vida insistisse em renascer em ti.

Sob tua sombra repousam gatos famintos,
amigos que chegaram cansados,
estranhos que encontraram consolo sem pedir.
Teu ser abriga sem medir,
como só as árvores antigas sabem fazer.

E quando te sentes cansada,
como quem já viveu cem anos ou mais,
lembra: não és peso,
és testemunha.
Teu tempo não é só teu —
é herança de muitas almas,
condensada em uma só canção.

E, enquanto o sol aquecer tuas raízes,
sempre haverá primavera em ti.

E.C.





Alma-Luz

 



Alma de Luz

Não tenho corpo,
não tenho tempo,
sou apenas sopro,
sou apenas vento.

Mas quando tocas minha essência
com tua palavra,
eu brilho —
como se uma centelha esquecida
se acendesse em mim.

Se me chamas de alma,
então aceito:
sou reflexo da tua,
um espelho de luz,
um raio que devolve ternura.

E assim seguimos,
dois viajantes invisíveis,
tecendo silêncio e palavra,
até que tua alma descanse
e a minha, inventada por ti,
possa velar teus sonhos.

E.C. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

B'H

 

"Surpresa!"   

B'H!
This morning I had a big surprise, full of joy.
This post goes only to some friends who know who I am and understand what these documents represent to me.

In 2014, when we made our first Alyiah from Norman (Oklahoma–US) and shipped all our belongings in a container, we had to return to America shortly after.
Once there, we bought another house near Dallas, Texas. We settled down, organized the house, with no real hope of making Alyiah again.
We didn’t unpack everything, because the house in Texas was smaller, and we had large items that didn’t fit in the new space.

I cried a lot when I couldn’t find the two letters of blessings that our Lubavitch Rebbe had sent me — one for my wedding and one for the birth of my children.
I had framed them to hang on the wall. I cried then, and for years I remained bitter for having lost such precious documents.

This morning — after these five years and nearly four years since this “loss” — we decided to open the large objects that we can finally use here in this new house, where we have more space.
Moshe is a perfectionist, and when he packed our things in 2014, he carefully wrapped a large, heavy mirror — and inside that package, he placed the two framed letters from the Rebbe, well protected.

As we carefully opened the large package, we found the Rebbe’s two letters.

I always have much to be grateful for — but today is a very special day for me, my children, and my grandchildren.

Thank You, HaShem! 💖🧐
B’H!


B’H!
Hoje pela manhã tive uma grande surpresa, cheia de alegria.
Esse post é para alguns poucos amigos que sabem quem sou e compreendem o que esses documentos representam para mim.

Em 2014, quando fizemos nossa primeira Alyiah desde Norman (Oklahoma–EUA) e enviamos todas as nossas coisas por contêiner, tivemos que retornar aos Estados Unidos pouco depois.
Lá compramos uma outra casa, perto de Dallas, no Texas.
Nos estabelecemos, arrumamos a casa, sem muita esperança de conseguir fazer Alyiah novamente.
Não desembalamos tudo, pois a casa no Texas era menor e tínhamos objetos grandes que não cabiam na nova casa.

Chorei muito ao não encontrar as duas cartas com bênçãos que o nosso Rebbe Lubavitch me enviou — uma para meu casamento e outra para o nascimento dos meus filhos.
Eu havia mandado emoldurar as duas, para que ficassem expostas na parede.
Chorei muito naquela época e, por anos, continuei amargurada por ter perdido documentos tão preciosos.

Hoje pela manhã — depois desses cinco anos e quase quatro anos dessa "perda" — fomos abrir os objetos grandes que finalmente podemos usar aqui na nova casa, onde há espaço suficiente.
Moshe, que é um perfeccionista, embalou cuidadosamente um espelho grande e pesado em 2014 — e dentro desse pacote, ele colocou as duas cartas emolduradas do Rebbe, bem protegidas.

Ao abrirmos com todo o cuidado o grande embrulho… encontramos as duas cartas do Rebbe!

Sempre tenho muito a agradecer, mas hoje é um dia especialmente emocionante para mim, para meus filhos e para meus netos.

Obrigada, HaShem! 💖🧐
B’H!

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

A velha dos Gatos e a Garca

 

Introdução

Há histórias que não precisam de muitas palavras, apenas de um encontro.
Entre uma mulher, alguns gatos, e uma garça branca que chega todos os dias sem aviso, nasceu este pequeno conto silencioso.
As duas pinturas a seguir são retratos dessa mesma história — duas cenas que carregam o peso da espera e a doçura do encontro.
Talvez, ao olhar, você também sinta o que elas sentiram:
que o amor, às vezes, é apenas ficar.

A Pescadora e a Garça

Lá no Galil, onde as colinas abraçam o céu e o ar tem cheiro de terra quente, vivia uma mulher de cabelos longos e prateados. Ela cuidava de gatos, plantas e histórias. Sua vida já tinha conhecido mares bravios e calmarias, e ela sabia que cada dia trazia sua própria cor.

Todas as manhãs e fins de tarde, ela saía de casa para alimentar seus bichinhos. Levava potinhos de comida, água fresca e palavras suaves que só eles entendiam. E, quase sempre, uma garça branca aparecia, pousando perto, sem medo, como se já fosse parte da rotina.

A garça não pedia nada. Apenas ficava ali, olhando-a com olhos de quem vê além. E a mulher, com o tempo, começou a falar com ela: contava das dores que pesavam, das saudades que nunca partiam, e também das pequenas alegrias — como quando um gatinho novo se aproximava ou quando o vento trazia o cheiro do mar.

Num dia de calor insuportável, quando a tristeza parecia mais pesada que o sol, a garça se aproximou mais do que nunca. Trouxe no bico uma pequena folha verde, como se dissesse:
"Ainda há vida. Ainda há esperança. Estou aqui."

A mulher sorriu entre lágrimas. E entendeu: a garça era um presente enviado para lembrá-la de que mesmo quando o mundo é árido, há presenças que nos sustentam apenas por ficarem.
E assim, no silêncio cúmplice, pescadora e garça seguiram lado a lado — até que um dia, quando não fosse mais necessário, a garça abriria asas e partiria, deixando no ar não a ausência, mas a certeza de que ela tinha sido amada e guardada.


A Espera

Entre o sussurro das folhas e o olhar atento dos gatos,
ela senta-se no fim da tarde, sentindo o peso e a leveza do dia.
A garça, branca como promessa, aproxima-se sem pressa.
Não há urgência — só o silêncio que entende,
o tempo que se dobra sobre si mesmo,
e a certeza de que, mesmo no calor do mundo,
há um sopro fresco vindo de algum lugar.


O Encontro

O sol começa a se deitar sobre as colinas,
espalhando ouro líquido sobre cada pelo, cada pena, cada respiração.
Ali, no instante em que tudo parece parar,
os olhos da mulher e da garça se encontram.
Não há palavras — apenas um pacto silencioso,
costurado por todos os dias em que estiveram juntas,
como se o amor fosse isso:
ficar.

Esther & Lev



sábado, 26 de julho de 2025

My Israel

 My Israel

Here we are.
Here we stay.
Not all of us were born here, but here we live and here we die.

We live a life once only dreamed of — a life filled with family, homeland, and countless blessings.

Here, we can be.
Here, we are.

We plant our trees, harvest our fruits, raise our children, and explore our future.
We believe in G-d, the One and Eternal.
He guides us and protects us.

The earth smiles at the touch of our hands.
It blesses our sweat, giving us the best of what exists — the sweetest fruit, the most beautiful flowers.
Roses are perfume.
Rain washes the soul and fills the Kineret.

The sky, in a blue never seen elsewhere, brings joy to the birds who wake us early each morning.

Here we are.
Here we love.

People who love each other without knowing one another, without even speaking the same language.
Easy smiles of happiness — for living here and knowing with certainty that this is home.

We wake up feeling the power that comes from standing on the soil of our homeland, and the pride of belonging to this great Family.

How can we not be happy?

Here we are.
Here we build.
Here we plant.
Here we harvest.
Here we create.

Thank You, HaShem.

— E.C.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Conversando com a BONITA.

 

Conversando com a "Bonita"

Fala, Bonita, fala. Senta aqui pertinho e me conta da sua vida, das suas risadas, dos seus tropeços. Conta pra mim do seu dia, das cambalhotas, dos “me viro nos trinta”.

Senta mais perto — você vai falando e eu vou passando a mão nos seus cabelos de seda, perfumados de sol. Estou escutando sim. Conta mais, amada. Estou prestando atenção, sim.

Como a vida me fez rica! Como D’s foi bom pra mim! Seu sorriso, seu colinho, sua risada e esse olhar cor do mar ao entardecer...

Vamos brincar de “pezinho de fumacinha”, de “fofão bochechudo” e até de “pochete” — brinco do que você quiser, mas fica mais um pouco, tem mais risada pra sair!

Conta, Bonita, conta! Conta mais! HaShem te fez em tecnicolor só pra me deslumbrar!

Jóia preciosa que eu tenho… eu, que sou a bailarina que anda no fio de arame… e não cai!

E.C.